Um outro evangelho

19:38:00

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Para o professor Augustus Nicodemus Lopes, a crise do movimento evangélico brasileiro está ligada ao liberalismo e à flexibilização dos conteúdos das Escrituras.

'Não me acho xiita', vai logo dizendo o professor, pastor e pesquisador presbiteriano Augustus Nicodemus Lopes em seu mais novo livro, O que estão fazendo com a Igreja (Mundo Cristão). 'Mas muitos me chamam de fundamentalista', acrescenta. 'Não fico envergonhado quando me rotulam dessa forma, embora prefira o termo calvinista ou reformado', explica. A quantidade de adjetivos expressa bem o universo desse intelectual protestante, nascido na Paraíba e que fez carreira no segmento acadêmico religioso. Graduado em teologia, mestre em Novo Testamento e doutor em Interpretação Bíblica – este último título, pelo Instituto Teológico de Westminster (EUA) –, Nicodemus já dirigiu diversos seminários ligados à sua denominação e hoje exerce o cargo de chanceler da respeitada Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Na mesma cidade, pastoreia a Igreja Presbiteriana de Santo Amaro. O conjunto de sua obra já dá uma idéia de suas posições teológicas. Títulos como O que você precisa saber sobre batalha espiritual, Fé cristã e misticismo e Ordenação de mulheres: O que diz o Novo Testamento, todos publicados pela Cultura Cristã, entre diversos outros livros, são baseados na mesma teologia conservadora que ele não apenas abraça, como defende com unhas e dentes. O que não impede, é claro, que esteja aberto a outros pensamentos. 'Desde que sejam comprometidos com as Escrituras', ressalva. Nesta conversa com CRISTIANISMO HOJE, Augustus Nicodemus fala do livro recém-lançado na Bienal do Livro de São Paulo e avalia a situação da Igreja Evangélica hoje. 'Infelizmente, estão fazendo muita coisa ruim com ela', aponta. CRISTIANISMO HOJE – é inevitável começar esta entrevista com a pergunta que dá título ao seu livro: o que estão fazendo com a Igreja? AUGUSTUS NICODEMUS LOPES – Infelizmente, muita coisa ruim – desde desfigurá-la, passando uma imagem ao público de que todos os evangélicos e seus pastores são mercenários que vivem para fazer barganhas com Deus em troca de bênçãos, até destruí-la internamente, trocando o Evangelho de Cristo por um outro evangelho. Um evangelho despido de poder, realidade histórica e eficácia salvadora, que é ensinado pelos liberais. Aqui entram também os hiper-conservadores, às vezes chamados de neo-puritanos, com sua visão radical de culto. Quais os efeitos da pós-modernidade sobre a Igreja? A pós-modernidade facilitou e aumentou a influência do liberalismo, do relativismo e do pragmatismo na Igreja brasileira, ainda que esses movimentos e tendências sejam tão antigos quanto a própria Igreja. A presente época, marcada pela pós-modernidade, facilita a penetração desses elementos na vida, liturgia e missão das igrejas evangélicas, como de fato temos presenciado. E por outro lado, existem líderes evangélicos que conscientemente constroem ministérios, igrejas e movimentos que se apóiam em métodos e ideologias liberais, relativistas e pragmáticas. O que essas coisas têm em comum é que sempre representam uma tentação para corromper o Evangelho bíblico, quer pelo apelo à soberba humana, quer por um tipo de Cristianismo descompromissado, ou ainda pela oferta enganosa de resultados extraordinários em curto espaço de tempo. A crise de ortodoxia do Evangelho contemporâneo, bem como o pós-denominacionalismo, é resultado direto deste processo? Sem dúvida. O relativismo representa uma ameaça concreta à Igreja, pois a mesma se firma sobre verdades universais e imutáveis, como a existência do Deus Trino; a humanidade e divindade de Jesus Cristo; sua morte vicária e sua ressurreição real e física de entre os mortos; a salvação pela fé sem as obras da lei; e a segunda vinda de Cristo. A Igreja defende também uma ética centralizada no amor que, segundo Jesus e seus apóstolos, consiste em obedecer a Deus e aos seus mandamentos. Todavia, o relativismo rejeita o conceito de verdades absolutas e internaliza a verdade no indivíduo. E qual o efeito prático disso?O questionamento à autoridade da Bíblia, ao caráter único do Cristianismo e ao comportamento ético pregado historicamente pelos cristãos. Mas, num certo sentido, o relativismo pode representar uma oportunidade para o Cristianismo em ambientes pós-cristãos, onde a fé cristã já foi excluída a priori. Por exemplo, no ambiente das universidades, o discurso é geralmente anticristão, relativista, pluralista e inclusivista. Os cristãos podem, em nome da variedade e da pluralidade, pedir licença para falar, já que, de acordo com a pós-modernidade, todos os discursos são iguais e válidos – e nenhum é melhor do que o outro. O movimento evangélico brasileiro, tão numeroso e multifacetado, está perto de seu fim? Não creio que o movimento evangélico brasileiro chegue a um fim, mas temo que esse processo de desfiguramento e de enfraquecimento teológico e doutrinário, levado a cabo por liberais, neopentecostais, libertinos e neo-puritanos, acabe transformando a Igreja brasileira em algo distinto da Igreja bíblica. Por outro lado, como sempre existiram os sete mil que nunca dobraram os joelhos a Baal, é provável que, paralelamente, aconteça o fortalecimento de denominações, ministérios e grupos evangélicos que prezam a Bíblia – gente que valoriza as práticas devocionais como oração, meditação e santidade bíblica e que tem visão evangelística e missionária. Já no momento atual é possível identificar esse crescimento, embora em dimensões menores do que gostaríamos. Quanto ao perfil dessa nova Igreja, fica difícil prever. Uma das críticas que o senhor faz é à ênfase na formação teológica liberal, que seria uma espécie de 'coqueluche' dos teólogos de hoje, interessados numa graduação reconhecida sob o ponto de vista acadêmico. Neste sentido, o reconhecimento oficial aos cursos de teologia, uma antiga bandeira do segmento evangélico, veio para melhorar ou piorar as coisas? Em si, o reconhecimento oficial de um diploma de teologia não representa qualquer perigo para a Igreja. Mas o problema não é o isso, e sim, o conteúdo que será ministrado aos alunos que buscam uma formação reconhecida pelo Ministério da Educação. Da minha parte, creio ser possível termos um curso de teologia reconhecido oficialmente e que apresente uma teologia bíblica e saudável. Todavia, nem sempre tem sido esse o caso. Como assim?Esse reconhecimento tem sido oferecido, freqüentemente, através de cursos de teologia de faculdades e universidades públicas e privadas que não têm compromisso com a confessionalidade cristã histórica. é verdade que o reconhecimento oficial dos cursos de teologia é uma antiga bandeira do segmento evangélico. Só que, quando os evangélicos queriam isso, os cursos de teologia reconhecidos eram oferecidos por instituições de ensino superior que tinham tradição cristã. Além disso, eram dirigidas por cristãos comprometidos com a teologia histórica da Igreja, como Princeton nos Estados Unidos e a Universidade Livre na Holanda, por exemplo. Atualmente, grande parte dos professores de alguns desses cursos obtêm seus diplomas e graus de mestre e doutor em escolas liberais – e nem sempre na área de teologia, mas em ciências da religião, sociologia, psicologia, antropologia, letras etc. O problema, então, é o que professores com este tipo de formação vão ensinar? Não é tanto o que eles ensinam, mas o que deixam de ensinar, exatamente porque não tiveram uma sólida formação teológica debaixo de orientação bíblica. Quem mais tem sentido o impacto do liberalismo teológico em sua mão de obra são as igrejas pentecostais, que por não terem tradição em preparar seus obreiros, acabam recorrendo a esses cursos e expondo seus pastores, evangelistas e obreiros à teologia liberal. Em sua obra, o senhor fala na existência de uma esquerda teológica que valoriza o liberalismo, não apenas nas questões religiosas, mas sobretudo comportamentais. Num panorama em que a esquerda política, atualmente no poder, parece confusa e adota posturas flagrantemente neoliberais, esta confusão ideológica também contamina o segmento evangélico? Acho que sim. Não é coincidência que um grande segmento evangélico esteja defendendo bandeiras liberais, como o aborto, o reconhecimento das uniões homoafetivas, o sexo antes do casamento... Essa atitude de tolerância e relativismo é a mesma que sempre marcou o esquerdismo no Brasil. Não estou dizendo que todo evangélico esquerdista é liberal e defende essa agenda; mas que existe uma coincidência de valores éticos e de agenda.O movimento evangélico brasileiro é tão diversificado quanto as milhares de denominações que o compõem. No atual panorama, identificado no seu livro, esta diversidade traz mais vantagens ou desvantagens? Acredito que a diversidade é sadia e bíblica. Entendo, porém, que existe uma unidade essencial e básica entre os verdadeiros cristãos, que pode ser resumida nos fundamentos da fé bíblica. Os verdadeiros evangélicos confessam estes fundamentos, e vamos encontrá-los em todas as denominações que compõem a Igreja Evangélica brasileira. Mas vamos encontrar também quem não crê em nenhuma dessas coisas, ou que nutrem reservas quanto a elas. Eu não tenho problemas com a diversidade, pois acho-a enriquecedora. Tenho divergências inclusive com irmãos e colegas que são reformados calvinistas como eu. Todavia, existe uma unidade essencial mais forte e superior às divergências. Teologia tem um poder tremendo para unir as pessoas ou para separá-las, pois tem a ver com convicções e experiências pessoais.A partir dos anos 1980, o advento da teologia da prosperidade e da confissão positiva mudou a maneira de se pensar a fé evangélica no país. Qual a verdadeira influência destas correntes na crise do movimento evangélico nacional? A confissão positiva acabou exercendo uma grande influência sobre os evangélicos brasileiros. Na minha opinião, todavia, ela não é a maior influência negativa. Considero a teologia da prosperidade, a busca de experiências místicas, as crendices e superstições que infestam os arraiais neopentecostais como sendo de maior periculosidade para a Igreja. Quanto ao segmento reformado, por sua própria natureza, ele é mais resistente à essas infecções e pouca influência recebeu – mas tem, entretanto, sofrido mais com outros tipos de problemas, especialmente com sua incapacidade, até o momento, de crescer de forma significativa sem perder o compromisso com a fé histórica da Igreja.Se muitos dos postulados neopentecostais vão de encontro à tradição protestante, em quê o segmento histórico falhou, ou pelo menos hesitou, para que, a partir dos anos 1970, o neopentecostalismo crescesse em proporções geométricas no cenário evangélico nacional? Boa pergunta. é interessante que, na década de 1950, a Igreja Presbiteriana era uma das maiores denominações evangélicas do país. Por algum motivo, perdemos o bonde. Não sei avaliar direito o que aconteceu. Pode ser que tenhamos exagerado na reação aos abusos do movimento carismático na década de 70 e nos fechamos na defensiva. Ficou difícil, naquela época, falar do Espírito Santo e de reavivamento espiritual sem sermos confundidos com carismáticos e pentecostais. Pode ser também que reagimos da mesma forma diante do crescente movimento litúrgico e do movimento de crescimento de igrejas, com toda sua parafernália metodológica centrada no homem – movimentos estes que dominaram o cenário dos anos 70 a 80. E depois, a mesma coisa diante dos neopentecostais. Não conseguimos ainda sair da defensiva e ser mais proativos, oferecendo alternativas, soluções – e o que é melhor, oferecer nosso próprio exemplo de como uma igreja pode crescer de maneira sadia, sem comprometer a teologia e a ética bíblica. Então, o liberalismo teológico também afetou as igrejas tradicionais? Sim, afetou tremendamente as igrejas históricas nos anos 60, especialmente os seus seminários. Isso causou graves problemas e disputas internas, que obrigaram essas igrejas a relegar o crescimento a um plano secundário e a se concentrarem na própria sobrevivência. As igrejas históricas que não conseguiram sobreviver ilesas hoje são as menores entre os evangélicos, mais voltadas para o social e ainda em lutas internas com os liberais que sobreviveram dentro de suas organizações e estruturas. Já as que conseguiram sair inteiras, embora chamuscadas, começam lentamente a progredir e retomar seu crescimento, como creio ser o caso da Igreja Presbiteriana do Brasil.Por que lideranças autocráticas e monolíticas, cada vez mais comuns nas igrejas, são aceitas pelos fiéis? Em minha opinião, é o que chamo em meu livro de 'a alma católica dos evangélicos brasileiros'. Os brasileiros estão acostumados com o catolicismo romano e sua hierarquia eclesiástica totalitária. Por séculos, o romanismo impregnou a alma brasileira com a idéia de que a religião deve ser conduzida por líderes acima do povo, que vivem numa esfera superior; enfim, intocáveis. No romanismo, os líderes não são eleitos pelo povo, como acontece na maioria das igrejas históricas, cujo sistema de governo é democrático – eles são impostos, determinados, designados. Além disso, são considerados como especiais e distintos; é o clero separado dos leigos. As ordens eclesiásticas são um dos sacramentos da Igreja Católica. E os brasileiros viveram sua vida toda debaixo da influência de uma religião regida por bispos e por um papa, o qual, segundo um dogma católico, é infalível. Nada mais natural, portanto, que ao se tornarem evangélicos, suspirem e desejem o mesmo esquema de liderança, como os israelitas que disseram a Samuel que constituísse um rei sobre eles, para que os governasse, como o tinham as outras nações à sua volta, conforme I Samuel 8.5. Essa mentalidade romana favorece o surgimento, entre os evangélicos, de líderes autocráticos e auto-designados, que se arrogam o título e o status de bispos ou apóstolos.

Luciano

A batalha de Roma pela Bíblia

19:13:00

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Sínodo dos Bispos revisa o acordo de infalibilidade estabelecido no Vaticano II.

A doutrina da infalibilidade bíblica não pertence apenas àqueles que bradam: "Sola Scriptura!". A infalibilidade emergiu como uma questão-chave no Sínodo dos Bispos da Igreja Católica Romana, que teve início no dia 6 de Outubro de 2008. Concentrado na "Palavra de Deus, na Vida e na Missão da Igreja", o Sínodo proporcionou aos 180 bispos Católicos a chance rara de compartilhar suas preocupações e escutar os colegas do mundo inteiro. O Papa Bento XVI dirigiu-se ao Sínodo no dia 14 deste mês e lamentou a ruptura entre os acadêmicos bíblicos e os teólogos. Os líderes religiosos já haviam alertado para o fato de que esta ruptura leva muitos Católicos a questionar a vitalidade e a autoridade da Palavra de Deus.De acordo com o boletim oficial do Vaticano, o Papa Bento XVI "concentrou-se nos critérios fundamentais da exegese bíblica, nos perigos de uma abordagem positivista e secularizada das Sagradas Escrituras, e na necessidade de uma relação mais próxima entre a exegese e a teologia".Bento XVI expressou sua apreciação pelos métodos de pesquisa que tratam a Bíblia como história verdadeira, e não como mitologia. E também desacreditou a bolsa de estudos de sua terra natal, a Alemanha, que nega a ressurreição de Jesus.O papa advertiu também que os eruditos devem levar em consideração a unidade de toda a escritura, a tradição da igreja, e a analogia da fé (a coerência da revelação bíblica). Segunto Bento XVI, a falha ao balancear a exegese com teologia conduz à conseqüências destrutivas."Esta é a primeira conseqüência: A Bíblia permanece no passado, falando somente do passado", explica o papa. "A segunda conseqüência é ainda mais grave: Onde a hermenêutica da fé [interpretação de textos sagrados] explicada no Dei Verbum desaparece, um outro tipo de hermenêutica aparecerá pela necessidade, uma hermenêutica que seja secularista, positivista,com o fundamento chave de que o divino não aparece na história da humanidade. De acordo com essa hermenêutica, quando parece haver um elemento divino, a fonte dessa impressão deve ser explicada, e assim tudo é reduzido ao elemento humano", completa."Nas entrelinhas, isto é uma tentativa de trazer a Igreja Católica Romana de volta às fontes escriturais", afirmou Timothy George, diácono fundador da Beeson Divinity School. "Devemos ler esta discussão à luz do livro do Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré. Ele aparece como um conservador quando se trata de questões de criticismo acadêmico, muito embora não seja propriamente um `infalibilista´ do Chicago Statemen¹".O proeminente observador do Vaticano, John Allen Jr., tem feito relatórios diários do Sínodo direto de Roma. Ele descreveu a visão Católica sobre a autoridade bíblica como estando "a meio-caminho entre dois extremos – o fundamentalismo de cepa evangélica, por um lado, e o ceticismo secular, por outro. Em uma gravação de áudio, o Catolicismo é descrito como estando em algum lugar entre a Convenção Batista do Sul e o Seminário de Jesus".Segundo Allen, alguns dos líderes Católicos mais conservadores se mostraram preocupados em relação aos primeiros esboços do documento de trabalho do Sínodo, o Instrumentum Laboris. O documento não apresenta ensinamentos de autoridades eclesiásticas. Mas, conforme observou Allen, "a discussão acerca da infalibilidade sugere que um tratamento cuidadoso deste assunto constará na versão final do documento, seja através das propostas submetidas ao Papa pelos bispos, seja na constituição apostólica que se espera ser proposta por Bento XVI".Allen relatou o que estava dito no documento em vias de elaboração: "Considerando o que pode ser inspirado por partes diversas das Sagradas Escrituras, a infalibilidade se aplica apenas ‘àquela verdade que Deus desejou que estivesse contida nas Escrituras, pelo bem da salvação’ (ênfase adicionada)". Esta paráfrase e esta citação provêm da declaração seminal de 1965, Dei Verbum, do Vaticano II. Mas em nenhum lugar o latim impositivo contemplou a palavra pode, conforme notou Allen.O Dei Verbum passou por várias revisões até alcançar um delicado equilíbrio. A primeira versão do Vaticano II afirmava que "as Sagradas Escrituras em sua completude são imunes de erro". Mas a versão final concluía que "os livros da Escritura ensinam sólida e fielmente, sem erro, a verdade que Deus desejou estar presente nas Sagradas Escrituras, para o bem da salvação"."O dogma da infalibilidade estava limitado ao domínio das verdades salvíficas", afirmou Gregg Allison, professor associado de teologia Cristã no Southern Baptist Theological Seminary (Seminário Teológico Batista do Sul). Questões relacionadas à história e à ciência não estavam ao alcance da infalibilidade. "Isto reduziu significativamente os problemas bíblicos levantados pelos acadêmicos Católicos, mas também se voltou contra a visão histórica da igreja acerca da veracidade das Escrituras".A tradução inglesa do documento do Sínodo atual sinalizaria um enfraquecimento progressivo da doutrina Católica da infalibilidade - "Parece que o acordo tácito do Vaticano II está sendo exposto na conferência de Roma", afirmou John Woodbridge, professor e pesquisador da história da igreja e da história do pensamento Cristão na Trinity Evangelical Divinity School. "Após anos de ‘não conteste’, agora eles estão perguntando e buscando respostas".Os desafios do Catolicismo perante a infalibilidade no final do século XX voltaram-se contra os longevos ensinamentos da igreja. Ninguém menos do que Santo Agostinho de Hipona estabeleceu o padrão da igreja. "A autoridade destes livros chegou até nós desde os apóstolos, passando pela sucessão de bispos e pela extensão da igreja, e, a partir de uma posição de eminente supremacia, reivindica a submissão de toda mente fiel e piedosa", escreveu Agostinho em resposta a Fausto, o Maniqueu. "Se ficamos perplexos mediante uma aparente contradição nas Escrituras, não é permitido dizer: ‘o autor destes livros se equivocou’, senão que, ou o manuscrito possui falhas, ou a tradução está errada, ou ainda, você não compreendeu".O Papa Leão XIII citou Agostinho em sua encíclica maior, de 1893, sobre o estudo das Sagradas Escrituras. O Vaticano elaborou, subseqüentemente, uma tomada de posição de décadas sobre o alto criticismo. Ao mesmo tempo, as controvérsias acerca da autoridade das Escrituras estavam causando destruição nos seminários e denominações Cristãs.Mais recentemente, os seminários e universidades Católicas toleraram os acadêmicos que negam a historicidade de alguns acontecimentos bíblicos, como os milagres de Jesus. O Papa Bento XVI é um agostiniano, e seus anos de professor universitário lhe proporcionaram os desafios colocados pelo criticismo acadêmico. De acordo com Allen, o papa advoga a "exegese canônica", que "garante a unidade da Bíblia e foca em uma interpretação teológica ao invés de literário-histórica".Antes do Sínodo, a Federação Bíblica Católica comissionou um estudo em 13 países para entender como eles concebiam a Bíblia, informa Allen. "Em linhas gerais, a pesquisa concluiu que inclusive em nações altamente secularizadas, as pessoas têm geralmente uma atitude positiva em relação à Bíblia, achando-a ‘interessante’ e querendo saber mais sobre ela", relata Allen. Ao mesmo tempo, poucos entrevistados não sabiam nada a respeito da Bíblia – nem mesmo se Paulo ou Moisés era um líder do Antigo Testamento.O problema no nível congregacional fora diagnosticado. Chegar a uma solução entre os líderes da igreja será ainda mais difícil, como nos mostra a história. Após empreender suas próprias batalhas em nome da infalibilidade, os Protestantes agora estarão assistindo."O único caminho em direção ao diálogo ecumênico é a senda bíblica", afirmou George. "A Igreja Católica Romana está levando a Bíblia mais a sério agora do que estava de 30 a 50 anos atrás, e isto é um bom sinal".Collin Hansen é editor de Christianity Today e autor de Young,Restless, Reformed: A Journalist's Journey with the New Calvinists(Jovem, incansável, reformado: A jornada de um jornalista com os novoscalvinistas)
¹O Chicago Statement on Biblical Inerrancy (Declaração de Chicago sobre a infalibilidade bíblica) ocorreu em uma Conferência Internacional de líderes evangélicos, acontecida no hotel Hyatt Regency O’Hare em Chicago, em 1978. O congresso foi patrocinado pelo Conselho Internacional sobre Infalibilidade Bíblica (International Council on Biblical Inerrancy, ICBI). A Declaração de Chicago foi assinada por quase 300 proeminentes acadêmicos evangélicos, tendo como objetivo defender a idéia de infalibilidade bíblica e fazer frente às tendências de abordagens liberais das Escrituras.

Luciano