O Fator Livre-arbítrio em Relação à Salvação do Homem (Parte 1)
Motivei-me a desenvolver este artigo, principalmente, por perceber que existe muito radicalismo por parte de uns e um pensamento distorcido acerca do amor divino por parte de outros em relação a esse tema polêmico tratado pela soteriologia, uns se denominam arminianos, outros calvinistas e parece até que posso ver diante de meus olhos algo muito parecido acontecer na igreja de Corinto (1 Co 3.1ss). É comum ouvirmos alguém dizer: “Calvino estava com a razão”, no mesmo instante um defensor inveterado de Armínio responde: “Que nada! Armínio é que estava certo!”. Será que a Bíblia já perdeu a sua suprema autoridade sobre nós? Afinal, quem está certo é Calvino, Armínio ou a Bíblia Sagrada?!
Antes de mostrar o que a Bíblia diz, quero mostrar os cinco pontos principais do calvinismo e do arminianismo e quero informar que apesar de me mostrar mais voltado ao pensamento arminiano, não me considero um defensor desse pensamento, pois encontro falhas nele, assim como encontro no calvinismo. Como já dei a entender, a Bíblia Sagrada é minha única fonte de verdade infalível e inerrante para o desenvolvimento desse artigo.
Calvinismo:
1 - Depravação Total: O estado de morte espiritual do homem o impossibilita de escolher a salvação;
2 - Eleição Incondicional: Deus elegeu para si alguns dentre todos os homens sem levar em conta seus méritos, boas obras ou fé;
3 - Expiação Limitada: O sacrifício de Jesus serviu para salvar apenas os eleitos;
4 - Graça Irresistível: A vontade do homem não influi na sua salvação, todos os que Deus eleger serão convencidos pelo Espírito Santo a aceitar a fé salvadora;
5 - Perseverança dos Santos: Uma vez salvo, salvo para sempre, portanto, não é possível alguém ser realmente salvo e perder a salvação.
Arminianismo:
1 - Livre Arbítrio: Embora o homem seja pecador, ele tem a capacidade de escolher a salvação oferecida por Deus;
2 - Eleição Condicional: Deus elegeu os homens através de sua pré-ciência, ou seja, ele sabe quais os homens quem corresponderão ao seu chamado;
3 - Expiação Ilimitada: Cristo morreu por todos os homens e não somente por alguns eleitos;
4 - Graça Resistível: Os homens podem resistir à graça de Divina escolhendo o pecado e não a salvação;
5 – Decair da Graça: Qualquer salvo pode, no decorrer de sua vida, perder a sua salvação se não perseverar até o fim.
Não tenho a intenção de tratar de cada ponto das duas correntes, quero me focar no que a Bíblia Sagrada diz a respeito do livre-arbítrio do homem, afinal, era assim que se fazia em Beréia (At 17.11). Vale salientar também que a posição de qualquer que seja o pregador ou a igreja, por mais sério ou séria que possa ser, não pesa mais do que a Palavra de Deus nessa balança (Ef 2.20).
O homem tem a capacidade de escolher entre o bem e o mal?
De acordo com a minha Bíblia, sim. Seria difícil de acreditar que Deus sendo justo, condenaria alguém à perdição eterna por ter feito algo que não poderia evitar, por um caminho que não escolhera por si só (Gn 18.25; Dt 32.4; 1 Jo 3.7). Você lembra-se do que Deus falou ao povo de Israel por intermédio de Moisés pouco antes do mesmo morrer? Deus fez uma lista de bênçãos que o povo de Israel receberia se fosse fiel a ele e uma lista de maldições que os mesmos receberiam se lhe desobedecessem, e no final da profecia ele diz: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, Amando ao SENHOR teu Deus, dando ouvidos à sua voz, e achegando-te a ele; pois ele é a tua vida, e o prolongamento dos teus dias; para que fiques na terra que o SENHOR jurou a teus pais, a Abraão, a Isaque, e a Jacó, que lhes havia de dar.” (Dt 30.19,20 - Grifo meu). Ora, Deus fala a Israel que eles deveriam escolher se queriam o Senhor ou os ídolos, a vida ou a morte, e depois lhes diz que deveriam “dar ouvidos à sua voz e achegar-se a ele” e ainda vem alguém se apoderando de versículos fora de contexto para tentar provar que o homem não tem capacidade de escolha em se tratando da salvação! Porém não posse deixar de falar que o Espírito Santo tem um papel fundamental e indispensável nessa decisão do homem, a Bíblia diz: “E, quando ele [O Consolador] vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo.” (Jo 16.8), e diz mais: “Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo.” (1 Co 12.3). Acredito que estes versículos postos em contraste com Dt 30.19 dão um nó na cabeça de alguns, mas não há contradição, o que nós percebemos ao lê-los é que Deus capacita-nos a crer nele ao falar conosco por intermédio de sua Palavra (Rm 10.17), mas nós ainda assim, participamos com nosso desejo de salvação, com nossa entrega, com nossa renúncia, com nosso compromisso com ele. É Deus quem toma a iniciativa, afinal, ninguém pode chegar-se a Deus por seus próprios esforços, Deus se revelou ao mundo por seu Filho Jesus Cristo, ele estendeu a sua mão, mas nós não somos obrigados a segurá-la para sairmos da lama chamada pecado, pelo contrário, somos chamados por ele, mas nem todos ouvem sua voz: “Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz, Não endureçais os vossos corações, Como na provocação, no dia da tentação no deserto.” (Hb 7,8 - Grifo meu).
Um episódio interessante das Escrituras foi a repreensão que Jesus deu aos escribas e fariseus: “Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando.” (Mt 23.13 - Grifo meu). Agora reflita, se o reino dos céus pode ser fechado por alguém que o anuncia erroneamente de forma que os que são enganados são impedidos de entrar nele, então como pode haver eleição individual para salvação? Desse modo, nada poderia impedir um eleito de ser salvo, nem mesmo um fariseu ensinando meios humanamente impraticáveis de se chegar a Deus! Porém Jesus fala de forma clara que os fariseus estavam impedindo que muitos entrassem no reino dos céus. Isso mostra que para sermos salvos precisamos ser alcançados por Deus ao ouvir o verdadeiro e puro Evangelho. Essa passagem demonstra claramente um desejo, por parte dos prosélitos, de servir ao Deus verdadeiro, mas ainda não o haviam encontrado (ler Rm 10.14-18).
Outro texto interessante sobre o assunto em questão é este: “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar.” (Gn 4.7). Veja só, o Senhor, depois de o homem ter caído, diz a Caim que ele deveria dominar os seus desejos fazendo uma escolha entre o bem e o mal, por que ele diria isso a Caim se o mesmo não tivesse a capacidade de escolher entre o bem e o mal? Essa é a resposta que nenhum dos que defendem essa idéia jamais me respondeu, nem o podem fazer. Agora veja o que o próprio Deus fala de Israel quando o mesmo vivia em apostasia: “O que imola um boi é como o que comete homicídio; o que sacrifica um cordeiro, como o que quebra o pescoço a um cão; o que oferece uma oblação, como o que oferece sangue de porco; o que queima incenso, como o que bendiz a um ídolo. Como estes escolheram os seus próprios caminhos, e a sua alma se deleita nas suas abominações, assim eu lhes escolherei o infortúnio e farei vir sobre eles o que eles temem; porque clamei, e ninguém respondeu, falei, e não escutaram; mas fizeram o que era mau perante mim e escolheram aquilo em que eu não tinha prazer.” (Is 66.3,4 - Grifo meu). Diante deste texto há o que argumentar? Se o próprio Deus disse que o homem peca porque escolheu o pecado, então eu prefiro crer assim.
Jesus deixou uma ordem clara à sua Igreja: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” (Mc 16.15) e um convite a todos que ouvem sua Palavra: “E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.” (Ap 22.17 - Grifo meu).
Continua...
Na próxima parte dessa série de artigos eu tratarei a fundo, e humildemente, da Doutrina da Eleição.
Bibliografia:
[1]Ciro Sanches Zibordi. Calvinismo ou Arminianismo? (4). Disponível em:
http://cirozibordi.blogspot.com/2007/05/uma-vez-salvo-salvo-para-sempre-parte_24.html. Acesso em 30 de Junho de 2008.
[2]Jorge Pinheiro. A Doutrina da Eleição. Disponível em:
http://www.teologica.br/theo_new/files/DoutrinaEleicaoJorgePinheiro.pdf.
Acesso em 1 de Julho de 2008.