O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DA IGREJA

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A Igreja no princípio


"perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.

Em cada alma havia temor, e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos.

Todos os que creram estavam juntos e tinha tudo em comum.

Vendiam suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.

Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam o pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singileza de coração,

louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos". (Atos 2.42-47)

A "igreja" hoje

Aceitam e disseminam as heresias dos falsos apóstolos e pastores (inclusive da Teologia da Prosperidade e da Vitória Financeira), o partir do pão virou uma cerimônia formal e as orações foram abandonadas.

O temor é cada vez mais escasso (inclusive na vida dos líderes) e pouquíssimos prodígios são feitos por intermédio dos apóstolos e pastores da atualidade.

Os crentes acumulam propriedades e bens (alguns líderes enriquecem às custas dos fiéis), o produto da fé é vendido por R$ 7,00, R$ 900,00 ou outro valor qualquer, e os necessitados, além de não poderem contribuir, são cada vez mais esquecidos e explorados.

Diariamente cuidam de suas próprias vidas, sem dar a mínima para as necessidades dos outros (que por acaso chamam de irmãos). Semanalmente participam de uma espécie de clube social que chamam de igreja e de uma reunião que chamam de culto. Quando participam de festas, os corações estão cheios de inveja, arrogância, altivez, orgulho, mágoa, rancor, ódio e falsidade.

Dizem louvar a Deus com uma música de baixa qualidade (chamada de gospel), contam com a crescente falta de respeito e de credibilidade de todo o povo. Enquanto isso, acrescenta-lhes os oportunistas, dia a dia, os que vão sendo ludibriados.

O Processo de Institucionalização (descaracterização) da Igreja

A igreja-instituição dos dias atuais é uma construção histórica e cultural, que deve ser bem analisada e entendida.

O processo de institucionalização começou com Constantino, em 313, quando promulgou o Édito de Milão, garantindo assim liberdade de culto. Logo em seguida a igreja foi cumulada de magníficos presentes, dentre os quais, os explendorosos prédios que seguiam o padrão da basílica ou tribunal de justiça romano. A grande cadeira central (trono do bispo), as cadeiras menores (dos auxiliares), a alta plataforma (tribuna de honra), o púlpito, a nave, nenhum detalhe faltou da suntuosidade da corte imperial e da arquitetura romana. Agregado a este novo espaço cúltico e litúrgico, foi também introduzido algumas tradições da cultura judaica, com vários rituais e vestes litúrgicas para os "sacerdotes cristãos".

Na Idade Média, com a queda do Império Romano e a ascensão dos povos bárbaros ou germânicos, não demorou para que fossem importados os padrões dos grandes castelos e fortalezas dos reis. Assim, como no palácio real, a igreja passou a ter também os seus monarcas intocáveis e absolutos (papas, cardeais e bispos), com direito, inclusive às mesmas regalias, além de rainha (mesmo que oficiosa), bobo da corte, bajuladores, traidores e súditos. Ficava difícil saber quando se estava num castelo ou num templo cristão. A Reforma Protestante não contribuiu muito para a mudança dessa mentalidade monárquica-feudo-eclesiologizada.

A Idade Moderna toma força com a Revolução Industrial e posteriormente com a Revolução Francesa. Dessa forma, a igreja medieval precisa também se modernizar. Sem abrir mão dos esplenderosos prédios e da liturgia constantiniana, mantendo o esquema palacial feudo-eclesiologizado, resolve se abrir para as inovações estruturais emergentes. Na Europa e na América a igreja-instituição incorpora as teorias clássicas de administração iniciadas por Henri Fayol (1841-1925), que se preocupa com a estrutura organizacional, criando um rede interna de relacionamentos entre órgão e pessoas. Uma abordagem vertical é introduzida com forte ênfase na hierarquia, e outra horizontal é estabelecida com ênfase na departamentalização. Surge neste momento, inspirado no desenho organizacional administrativo clássico, a figura do Presidente da igreja e de seus auxiliares, gerentes, chefes ou supervisores. Dá para imaginar com quem ficou o papel ou atribuições dos operários? Mas, não se esqueçam que estamos em pleno mundo capitalista, e não dá para falar de capitalismo sem lucro e propriedade privada (acúmulo do capital). No que é investido os lucros? A resposta, no crescimento e expansão das igrejas-empresas, no aumento de seu patrimônio e no enriquecimento de seus "donos", proprietários ou sócios fundadores. E os operários, como e com o que ficam? Não ficam, ou ficam com quase nada em sua total alienação.

Nos dias atuais (pós-modernidade), sob a condição sócio-cultural e estética do capitalismo contemporâneo, a igreja-instituição, em sua forma híbrida, frankstenizada, e caricaturizada, herdada das mutações, incorporações e transformações culturais, caminha sem saber para onde, e vive sem saber o que é.

O dramático, trágico e cômico nisso tudo é que essa "coisa" chamada de igreja (instituição), insiste em achar que é a Igreja de Jesus.

Paulista-PE, 23/10/2009

Luciano